Embora saiba como é natural e inevitável o envelhecimento custa-me ver as mudanças nos meus pais. Até à pouco tempo dizia que eles não eram iguais aos velhotes que cuido e alguns bem mais novos que os meus. Neste momento ainda fazem tudo sozinhos, mas ver cada vez mais a dificuldade de locomoção, a dificuldade de se levantarem e principalmente ver a que o cérebro está em declínio custa-me muito.
A minha mãe sempre foi uma pessoa com uma memoria extraordinária. Contas e datas era com ela. Esta semana telefona-me para a ajudar. Tinha ido ao medico e tinha-lhe recitado um medicamento novo que era para tomar de 12 em horas, tinha-o tomado às 19 horas e não conseguia fazer as contas para saber a que horas tomar o próximo.
Fiquei em choque e a pensar que aquela não era a minha mãe.
Todos os dias lido com velhotes. Todos os dias tiro fraldas, ponho fraldas, dou comida à boca e faço higienes. Todos os dias lido com as confusões e esquecimentos deles. Nada disto me faz confusão, mas imaginar os meus pais nestas condições não consigo.
Na minha cabeça os meus não são iguais aos outros.