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Marrocos e o destino

A ida do maridão para Marrocos trouxe muitos imprevistos, peripécias, aventura e muitas saudades. É aqui que irei tentar "expulsar" os medos, as tristezas, as alegrias e as saudades.

Marrocos e o destino

A ida do maridão para Marrocos trouxe muitos imprevistos, peripécias, aventura e muitas saudades. É aqui que irei tentar "expulsar" os medos, as tristezas, as alegrias e as saudades.

...e a coisa correu muito mal.

No mês passado fui fazer a endoscopia e colonoscopia. Não senti nada e acordei porreirinha. Não havia necessidade de tantos nervos e ansiedade, mas foi inevitável. Tal como foi impossível estar tranquila até o resultado da biopsia chegar.

Fui busca-lo e como não tinha medica nesse dia e seguia-se o fim de semana resolvi a abrir a carta. Fiquei a saber que tinha uma gastrite cronica e a bactéria Helicobacter pylori. Mais abaixo desta informação aparecia algo que não sabia o que queria dizer, mas sabia que era um código T:C.16.9-estomago. Tentei evitar o pensamento e a vontade de ir pesquisar do que se tratava, mas foi impossível controlar a vontade. Introduzi o código e apareceu "Neoplasia maligna do estômago, não especificado". Fiquei quieta a olhar para aquela frase, mas o meu pensamento não parava de fazer perguntas "Como iria eu dar a noticia ao Miguel?", " E a minha filha como iria reagir?", "Como iria ser a minha vida"?

Passou-me pela cabeça que aquela pesquisa poderia não estar correcta e fiz mais algumas. Infelizmente todas elas diziam o mesmo.

Confesso que chorei.

Decidi que não iria dar a noticia ao Miguel e que na segunda feira iria à medica.

Quando ele chegou e me perguntou como tinha sido o meu dia e se estava bem não aguentei a as lágrimas saltaram. Contei-lhe. Inicialmente tentou tranquilizar-me dizendo que aquele código poderia ser outra coisa. Pedi-lhe para ir até ao computador ver com os próprios olhos. Vi a preocupação no seu rosto. Tentou tranquilizar-me novamente dizendo que embora o que estava escrito fosse assustador nós não éramos médicos para saber interpretar as coisas e que mesmo que fosse o que estava escrito certamente estava numa face inicial ( a ultima biopsia tinha sido feita em 2016) e que seria curável. Disse-me algo que me fez rir "Além  disso temos a nossa estrelinha da sorte que nos tem acompanhado" e eu respondo-lhe " "Ultimamente a estrelinha tem andado meu fundida".

Conhecendo-me como me conhece sabia que eu não iria aguentar passar o fim de semana na expectativa e convenceu-me a irmos às urgências. 

Apesar de não demorar muito pareceu uma eternidade. Lá chamaram o meu nome e entrei no consultório a chorar. Depois de explicar à medica o que tinha acontecido e lhe mostrar a carta diz-me que não tenho motivo para estar assim, que apenas tinha a gastrite e a tal bactéria que seria combatida com antibióticos. 

Por um lado estava mais tranquila, mas queria saber o que era aquele código. Diz-me "isso é o local onde lhe retiraram bocados para a biopsia". Confesso que esta resposta não me deixou totalmente descansada, ainda assim sai de lá bem melhor do que entrei.

Na segunda fui à minha medica que me disse o mesmo que a outra, mas quando a questionei sobre o código diz-me "Isso é um código para os médicos, mas não é nada de preocupante".

Estou a fazer os antibióticos, mas digo-vos que não sei se mata a bactéria primeiro ou a mim. Além do enfartamento, agora tenho má disposição, dor de estômago (apesar de tomar o protector) e TERRÍVEIS AMARGOS DE BOCA (não desejo esta sensação a ninguém).

Apesar de estar mais tranquila vou querer uma opinião de um especialista.

 

 

Quando a medica chegou, vinda não sei de onde perguntou à auxiliar " Já telefonou para o informático?

A resposta deixou-me de boca aberta " Não atendeu. Saiu às 5 horas".  Eu sabia que ela não tinha ligado, mas fiquei caladinha. Apenas queria ser consultada e ir embora daquele local que mais parecia um hospital de doidos.

-Saiu? Ainda à pouco tempo falei com ele.

Mandou-me entrar no consultório e diz-me " Estou a trabalhar à 2 dias e já estou de rastos. É impossível trabalhar assim".

Agarra no telefone, marca um numero e começa a bater com ele na mesa. Uma, duas, três e quatro vezes. Naquela altura tive a certeza que aquilo seria para os apanhados. Uma medica que me deu um puxão de orelhas sem eu ter alguma culpa, uma medica que berra, uma auxiliar que não faz o que a medica mandou e diz que fez e para finalizar ainda vejo a medica a bater com o telefone na secretaria. Só poderia ser para algum canal de TV.

Do outro lado da linha alguém falou e tive a certeza que estava a falar com o tal informático. Ora se assim era presumi que a auxiliar iria ter problemas com a mentira.

A medica irritada tentava provar ao homem que aquilo não estava a funcionar e que não podia sair do consultório de cada vez que tinha de chamar um doente. A irritação dela era evidente e via-se que aumentava. Vira-se para mim e diz-me " se faz favor chame-me a auxiliar".

Por momentos pensei em dizer-lhe "vá lá a Drª", mas levantei-me feito um cordeirinho e fui à procura dela. Encontro-a agarrada à esfregona e digo-lhe " a medica mandou-me chama-la. Deve de achar que sou filha dela ou moça de recados". Chegada ao consultório ainda está ao telefone diz-lhe "com que então já tinha saído? Engraçado estou a falar com ele". " Telefonei mas como ninguém atendeu pensei que tivesse saído às 5". A medica ainda lhe disse algumas palavras menos simpáticas, mas com razão, diga-se.

No final do telefonema diz-me que assim é impossível de trabalhar, que ninguém quer trabalhar e que a vontade dela é pegar nas coisas e ir embora.

Eu estava enervada e irritada com todas aquelas situações, mas tinha de dar razão à medica. Trabalhar sem condições e com pessoas que não se esforçam para que as coisas corram bem deixa qualquer um à beira de um ataque de loucura.

Quanto à consulta propriamente dita foi feita e com o diagnostico que estava tudo bem com os meus olhos. 

Sendo assim parece que vou ter de voltar à medica de família para me enviar a outra especialidade e ver se descobrem o porquê da visão turva e psicadélica.

 

Tenho andado ausente, não porque não me apeteça escrever, mas os meus horários, a estadia do Miguel por cá, a ida dele, as arrumações da casa, as dores de estômago e a ida ao medico têm-me deixado sem tempo.

Ontem foi dia de ida ao medico, não por causa do estômago, que vai-se recompondo aos poucos, mas devido à visão psicadélica .

Devo dizer que fiquei impressionada com a rapidez com que fui chamada ao hospital. 1 mês após a medica de família ter enviado a credencial fui atendida. Recordo-me de ouvir as pessoas falarem que estavam meses à espera por uma consulta. Das 2 uma, ou não há doentes ou há mais médicos.

Antes da hora marcada lá estava eu com a inscrição feita e mal me tinha sentado já estava a ser chamada. Fizeram-me os exames normais que fazem no oculista e mandaram-me aguardar  informado-me que me chamariam novamente pelo mesmo numero. Fui lendo uma revista e olhando para o ecrãn não fosse chamarem-me e eu não ver. Creio que uma meia hora depois entra na sala de espera uma medica, com sotaque estrangeiro e pergunta, com voz irritada pelo numero 0666. Ninguém se acusou e ela diz " Não estão atentos?". Novamente não se ouviu ninguém e ela com a voz ainda mais irritada pergunta " Quem é a Joana Maria?". Ora Joana Maria era eu, mas não era o numero que ela tinha chamado, mas ainda assim levanto-me e digo "Sou eu". Nem me deixou acabar e diz-me em tom autoritário " Não está atenta ao ecrãn?". Em espaço de segundos pensei "Ai santíssimo sacramento que isto vai correr muito mal".  Respirei fundo e disse-lhe que apesar de me chamar Joana Maria não tinha o numero que ela tinha chamado e mostro-lhe a senha. Manda-me entrar para um corredor onde estão os gabinetes médicos e começa aos berros a chamar o nome de alguém. Deduzi que seria alguma auxiliar ou enfermeira. Depois de varias tentativas frustradas e aumentando o volume lá diz alguém "ela já foi embora".  "Então venha cá você".

Naquela altura recordei-me da minha consulta de dermatologia no mesmo hospital e ao comparar o momento achei que tinha o condão de trair médicos tão simpáticos .

A auxiliar aproximou-se com cara de que não lhe apetecia nada e pergunta-lhe o que se passava. 

- Telefone para o informático e diga-lhe que o numero que eu chamo no computador não é o mesmo que aparece no ecrãn.

- Mas já se telefonou e o problema é da maquina onde se faz a inscrição...

-Não quero saber. Telefone e fale com a pessoa.

Vira as costa e vai embora. Eu ali fico no corredor a barafustar coisas do género "isto vai correr muito mal", "a mulher é doida", " acordou mal disposta e eu é que vou pagar". A auxiliar sorri para mim e faz sinal como quem diz "haja paciência".

Pensei que ela iria pegar no telefone e fazer o que a medica lhe tinha ordenado, mas pegou na esfregona e continuou na limpeza.

Ali estava eu à espera e a pensar se aquilo não seria uma cena para os apanhados.