A história que trago é real e recheada de sentimentos. É longa por esse motivo irei contar por partes.
O meu sogro ficou viúvo há cerca de 13 anos e durante o ano seguinte quis viver o luto em casa abdicando das coisas que gostava de fazer. O teatro e coro que fazia parte.
Inicialmente fazia-lhe a limpeza semanal, mas rapidamente me pediu para ser ele fazê-la pois era uma forma de passar o tempo. Passava a ferro, fazia a limpeza ( ainda que tenha o defeito terrível de não deitar nada fora, mas ficará para outro post), fazia comida (embora fosse quase sempre batatas e bacalhau) e ainda tinha genica para ir cultivar o terreno. Durante cerca de 1 ano estas eram as tarefas e apenas saia quando não tinha alternativa.
Depois daquele ano enclausurado começou a sair regressando ao teatro, ao coro e aos bailaricos. Ficámos contentes por ter recomeçado a viver.
Recordo-me do natal há 11 anos atrás, tinha ele 78 anos,quando o questionámos se tinha uma namorada (tínhamos ouvido uns comentários) . Entrou na brincadeira e confessou que tinha uma colega dos bailaricos, chamada Josefa. Brincamos com a situação dela ser 20 anos mais nova.
O tempo foi passando e acabaram por se tornar inseparáveis. Para o filho aquela relação era algo de bom e fazia o pai feliz.
Confesso que inicialmente colocando o meu pai na situação dele me fez alguma confusão. Pensar que ele tinha outra mulher que não a minha mãe e eu aceitar era como se eu própria a tivesse a trair. Em conversa com o Miguel acabei por entender que o importante era a felicidade actual e não viver agarrado ao passado.
Sempre que o velhote estava connosco falava da senhora com um carinho enorme e naturalmente que a convidámos para o natal em nossa casa. Vimos com os próprios olhos a felicidade deles. Aliás fisicamente o homem tinha ganhado anos de vida.
Os anos foram passando e eles todos os dias estavam juntos. Para nós era um descanso, pois sabíamos que se apoiavam um ao outro.
Há cerca de 1 ano encontrei-a e revela-me que lhe tinha sido diagnosticado alzheimer.