ontem foi um dia difícil...revivi cada momento do dia 23 de Janeiro.
Tinha ido ao hospital falar com a medica para saber porque tinhas ficado internada. Estive 3 horas para falar com ela. Esperei pacientemente, compreendia que primeiro estavam os doentes da urgência e que quando pudesse viria falar comigo. Assim foi...disse-me que estavas com uma inflamação grave na vesicular e que dependia de como o teu organismo reagisse.
Por um lado sabia que poderia correr mal, mas por outro como já tinhas passado por varias situações complicadas e superaste-as achei que ias dar a volta.
Fui ver-te, o papá já lá estava, os seu olhos estavam cheio de lágrimas e achei estanho, pois não era homem de choros. Tu ficaste com um sorriso enorme quando me viste e disseste "ai a minha filhinha". Conversámos um pouco, disseste que não tinhas dores apenas uma impressão no coração. Disseste-me que o fim estava perto e eu como sempre respondi-te abrutalhado..." se dizes isso não venho cá mais. Tu vais ficar bem".
Lembro-me de ter saído para poder chorar sem me veres. Falei com a enfermeira para lhe dar a conhecer essa impressão no coração. Questionei-a da tua situação, mas pediu-me para falar com a medica. Conversámos sobre o meu trabalho, da minha experiência com os idosos, do meu medo de não resistires.
Despedi-me de ti e ainda vejo a tua cara com um sorriso e o teu acenar com a mão. Recordo-me de dizeres ao papá "nino não te esqueças de pagar o telemóvel que acaba dia 27".
Saímos os 2 com lágrimas nos olhos e mais chorei quando ele me contou que o tinhas chamado a sua beira e lhe tinhas dito que ias morrer nesse dia.
Com a experiência que tenho em cuidar de idosos eu sabia que apesar da tua aparência tranquila tudo poderia desmoronar, mas eu queria acreditar que ia correr bem.
23, 23h toca o meu telemóvel...a noticia da tua partida fez-me sentir uma dor como nunca tinha sentido...