Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Marrocos e o destino

A ida do maridão para Marrocos trouxe muitos imprevistos, peripécias, aventura e muitas saudades. É aqui que irei tentar "expulsar" os medos, as tristezas, as alegrias e as saudades.

Marrocos e o destino

A ida do maridão para Marrocos trouxe muitos imprevistos, peripécias, aventura e muitas saudades. É aqui que irei tentar "expulsar" os medos, as tristezas, as alegrias e as saudades.

Hoje foi dia de ir a uma consulta de dermatologia no hospital. O sinal na perna que em 2012 foi visto pelo médico simpatiquíssimo cresceu e mudou de aspecto. Segui as indicações que me deu na altura e procurei a minha medica  que passou uma credencial para a consulta de especialidade. 4 dias após tinha a carta para ir ao hospital.

Cheguei e fui fazer a inscrição, aguardei que a maquina indicasse a quantia a pagar e dizia "isenta". Fiquei desconfiada que tivesse algo errado com o meu numero de utente. Na ultima consulta de oftalmologia também não tinha pago nada. A mensagem tinha sido a mesma "isenta". Ora das 2 uma, ou me passaram a considerar pobre ou havia mesmo um engano.

Depois da consulta dirigi-me ao balcão de atendimento para verificarem o que se passava.

Segundo a pessoa que me atendeu a primeira consulta de cada especialidade pedida pelo Centro de Saúde não paga taxas moderadoras. Informei-a que em 2012 já tinha tido consulta de dermatologia, logo não era a primeira.  Disse-me "Ah, mas isso já foi há muito tempo. A de hoje é como se fosse a primeira vez."

Continuo com a pulga atrás da orelha. Daqui a uns tempos são bem capazes de mandar a conta para pagar e acrescida de juros.

Ah, quanto ao sinal? Está tudo bem.

 

A ultima noite foi vivida com um misto de emoções. Por um lado a tristeza por outro o alivio.

Penso que não será difícil aceitar que na minha profissão nos afeiçoamos mais a uns utentes que a outros, tal como na vida privada também criamos mais empatia por certas pessoas.

Não me recordo ao certo quando a D. F. deu entrada na Instituição, mas já lá vão pelo menos 6 anos. Uma senhora com uma personalidade bem vincada, mas que nos tratava sempre com educação. Muitas das peripécias engraçadas relacionadas com o meu trabalho foram vividas graças a ela.

Há muito que a maldita doença apareceu e aos poucos foi levando a melhor. Nos últimos dias estávamos à espera do seu fim. Confesso que ansiei que ele chegasse para poder deixar de sofrer. Tinha um carinho tremendo por ela e sabia que ela também o tinha por mim por esse motivo fiquei aliviada por ter sido no meu turno e ter sido junto de mim que faleceu. Não duvido que se pudesse me teria dito "obrigado por estar ao pé de mim D. Joana".

Hoje senti vontade de ir ao meu antigo blog Geriatriaaminhavida e ler as aventuras que passei com ela.

Aqui fica uma amostra:

 

"Dei por mim a pensar como seria a minha vida(de trabalho, claro) sem a D. F. e não me parece que fosse muito interessante.

Tenho a noção que ela é chata e muitas vezes não diz coisas com grande sentido, mas que a mulher tem graça{#emotions_dlg.lol} , lá isso tem.

Então a ultima vez que a deitei, foi para uma risota.

E esta ultima vez, foi exactamente um dia após a cena da D. A e o famoso cheiro do vinagre e do spray para matar as moscas.

Quando entrei no quarto, estava a rezar o terço, como sempre.

Perguntei-lhe qual era o liquido que queria ser esfregada.

-Hoje não é nenhum, quero evitar discussões com a A...

Fiquei tão feliz de ouvir tal coisa que pensei logo "Ok, estou safa do maldito cheiro".

Estragou logo o meu pensamento, com a frase "mas, é só hoje, porque não lhe vou fazer a vontade".

Fiquei desiludida, mas o trabalho tinha de continuar, pelo menos naquela noite estava safa.

Quanto a despir-lhe a roupa, tem de ser pela ordem que ela quer e não como nos dá mais jeito. Depois de lhe colocar a fralda e aproveitando que estava em pé tentei vestir-lhe a calças de pijama.

-Oh, menina as calças são vestidas comigo deitada.

Ainda que fosse mais fácil vesti-la levantada, fiz o que me pediu. Já deitada diz-me:

-Então não me vestiu o casco de dormir?{#emotions_dlg.unknown}

Não pensem que ela estava despida, tinha o soutien, a camisola interior e ainda a camisa de dormir.

-Oh D. F. já a visto. Não foi a senhora que se quis deitar?

-Pois fui, mas tinha de me vestir o casaco primeiro, assim os meu pulmões estão a apanhar frio...

-Frio? Com toda a essa roupa vestida?

-Isto não é nada bom para os pulmões...

A mulher não estava boa da cabeça, então tinha-lhe acabado de despir um blusa fininha e um casaco de malha e só agora é que os pulmões iam sofrer?

-Então durante o dia não tem frio e aqui no quarto já tem?

-O colchão é que me faz frio. Este material não é nada bom.

Não adiantava nada tentar convence-la do contrario, por isso não lhe falei mais do assunto.

-Vou ter de mudar a cama para a janela.

- O quê{#emotions_dlg.amazed}? Mudar a cama, novamente?

Devo dizer que anteriormente ela dormia ao lado da janela, mas por achar que ficaria mais perto da casa de banho, pediu para lhe mudarem a cama.

-Tem de ser porque não aguento o mau cheiro...

- Que cheiro?

- Quando entrei no quarto, senti um cheiro horrível e vinha dessa, ai do lado.

Ainda pensei que falava da D. A, mas referia-se à D. G. Concordo que o meu nariz suporta odores que para o comum dos mortais são nauseabundos, mas ali não sentia nada.

-Oh D. F. não cheira nada, tanto mais que a roupa foi toda mudada. Além do  mais qual a diferença do cheiro se a cama dela se mantiver ao lado da janela?

-Então não há diferença? Ali está encostada à parede e como não há circulação de ar o cheiro acumula-se ali...

-Então a solução é não fechar a porta...

- Mas assim há corrente de ar.

-Quer dizer, a senhora pode-se queixar de um cheiro que não existe e a D. A. não se pode queixar do cheiro a vinagre?

-Ah, mas o vinagre é um desinfectante...

-Mas não deixa de ter um odor horrível! Eu digo-lhe se um dia tiver de ir para um Lar e se a minha colega se esfregar com isso eu vou-me embora...

-Vai se tiver para onde ir!

"Raio", mas a mulher tem razão!"

 

 

"Depois de ter passado uns dias desanimada e a resmungar com o meu trabalho na instituição, eis que aparecem dias que me fazem rir.

E quem me poderia fazer rir?

A D. F. a tal senhora do vinagre.

Ela tinha ido a casa na altura do Natal e quando regressou trouxe mais uma roupinha(como se tivesse pouca). Roupa essa que necessitava de ser marcada.

Na altura que me pediu eu não tive tempo e disse-lhe  para pedir às colegas do turno da manhã.

No dia seguinte fiz tarde e pede-me novamente:

-Peço desculpa mas agora não posso. Então não pediu às colegas?

-Pedir pedi mas nenhuma o fez...

- Não deviam ter tido tempo. Olhe, amanhã pede novamente, se elas tiverem oportunidade marcam-lha.

Uns dias depois, mal me vê reclama novamente à cerca da roupa não estar marcada.

- A minha roupa ainda não está marcada e faz-me tanta falta...

Eu até a percebo, pois também eu gosto de ter toda a minha roupa pronta a vestir. Normalmente, queremos sempre a roupa ou que está suja ou a que está por passar, não é?

Nesse dia foi novamente impossível fazer o que me pediu. Pode parecer estranho para quem não sabe das tarefas que há a fazer numa Instituição, mas elas são tantas e estão de tal maneira programadas que qualquer coisa que impeça o normal funcionamento vai alterar tudo. Especialmente sendo poucas funcionarias, como tinha sido o caso.

Prometi-lhe que no dia seguinte logo que chegasse lhe iria marcar a roupa.

O prometido é devido e assim fiz quando ontem cheguei.

Infelizmente lá estava ela no seu quarto. Digo infelizmente porque é uma senhora que faz muitas queixas das colegas, obviamente quando está com as outras, o fará de mim.

Como eu esperava, lá veio um rol de queixas. Ora era porque uma funcionaria a detesta e faz tudo para a enervar, ora porque uma outra lhe colocou os sapatos em cima da cama quando os podia ter colocado na cadeira, outra que abre a janela quando lhe vai fazer a higiene e assim fica constipada...

Ela falava e eu ouvia, mas nada comentava, até que diz:

-Tanto cachecol que eu tinha e agora quero um e não tenho.

Das duas uma ou eu ouvi mal ou ela estava louca.

 Eu estava a ver um monte deles!

-Não tem cachecóis? Mas estão aqui sete. Só falta um, que deve de estar na lavandaria(tinha contado na lista quantos tinha trazido).

-Estão ai? Pois deviam tê-los colocado ai hoje à tarde...

-Não colocaram não, pois ainda ontem eu vim deita-la e eles estavam aqui.

-Estavam? Ai menina não percebo...então eu não os vi!

Deixa de falar dos cachecois e começa a falar nos casacos.

-Vejam lá eu com tantos casacos e tive de vestir este.

Ai, ai, ai! Vai dar comigo em doida!

Agarrei no monte dos casacos e tirei-os todos para cima da cama.

-Quantos é que quer? Tem aqui 10...

-Onde é que eles estavam?

-Aqui mesmo!

- Não sei o que se passa...

-D.F. eu acho que é melhor ir ao oftalmologista, esses óculos não devem estar bons!

-Mas eu estive ai e não os vi...

Oh, Deus do Céu dá-me paciência!

Eu poderia dizer que não gosto dela, mas não é verdade...ela diverte-me com a sua maluqueira.

Nesses mesmo dia teve a visita da família e claro mais roupa chegou.

Provavelmente vai-me calhar, novamente marca-la."

 

Paz à sua alma, D. F.

 Tive conhecimento do Mindfulness no meu emprego e participei em algumas sessões. Confesso que ainda não consegui sentir nada, mas tenho esperança que a coisa mude. Ofereceram-me o CD e desde há 2 dias que retiro uns minutinhos para praticar. Tenho-o feito sentada, mas hoje resolvi deitar-me ( acho que não deve de ser no sofá, mas...) e não foi a melhor decisão

Ora hoje estava concentradissima e deitada quando a Maria Pipoca resolveu saltar para cima de mim e desconcentra-me.

Aqui ficam as provas, apesar da má qualidade das fotos

20170327_191444.jpg

20170327_191411.jpg

 

 

 

 

Não gosto de mexericos, do diz que disse e do trás e leva. Se me contam algo, por norma fica comigo, mas infelizmente nem sempre pode ser assim.

O assunto era grave e depois de falar com uma das envolvidas e ela me ter garantido que a situação se tinha passado exactamente como me tinham contado decidi que tinha a obrigação de falar com alguém superior.

Já passaram umas semanas e apesar de achar que fiz o que tinha de fazer estou aqui a sentir-me uma "mer@#a".

Ouvir de alguém que gostamos e que respeitamos "Mas viu?", "E essa pessoa estava a falar a verdade?", "Se não viu não dizia" deixou-me de rastos.

Quando escrevi este post sobre o envelhecimento dos que são nossos tive um comentário em que dava a entender que eu era insensível na minha profissão uma vez que olhava para os meus pais de outra forma. 

Pois bem mais uma vez trago um tema que poderá fazer com que me vejam como insensível na minha profissão.

Vários utentes da Instituição onde trabalho têm a doença de alzheimer. Dou-lhe banho, visto-os, dou-lhe comida, muitas vezes à boca, dou-lhes afecto ( quando mo permitem, pois alguns não gostam), converso com eles, mesmo sabendo que aquela conversa é um emaranhado de historias sem sentido. Além das muitas vezes que tenho de lidar com a agressividade da parte de alguns. Faz parte da profissão saber lidar com isto. Se é fácil? Não não é. Muitas vezes dou por mim a tentar imaginar como seria a vida daquela pessoa antes de ter a doença, como seria a sua vida familiar e se a pessoa foi tendo a noção da evolução da doença.

Seria uma péssima profissional se dissesse que não me entristece e me choca ver situações destas, mas seria hipócrita se dissesse que sinto exactamente o mesmo quando tenho de lidar com familiares meus ou com pessoas próximas de mim com esta doença.

Quando recebo um utente novo é-me apresentado com as suas limitações, com as suas doenças portanto é assim que o vejo. Agora ver um dos meus a decair e a transformar-se em alguém que não conhecemos é bem mais duro, mais triste e mais difícil de aceitar.

O meu sogro tem perto de 90 anos, ficou viúvo há vários anos e depois de ficar fechado em casa bastante tempo conheceu uma senhora que lhe veio dar um novo alento à vida. Cá em casa dizemos que é a namorada, mas ele quando se refere a ela diz "a minha colega Josefa". Não vivem juntos mas estão diariamente juntos. Se bem que ultimamente não acontece com a mesma frequência para tristeza dele e nossa.

Foi ela mesma que me falou que tinha a doença de Alzheimer. Na altura achei que talvez estivesse a exagera um pouco, pois não via nenhum sinal da doença. Infelizmente não estava.

Ontem vimos a tristeza com que o meu sogro falou da namorada colega e nos contou alguns episódios.

Dizia ele " A Josefa esteve cá em casa no outro dia e depois de ir embora telefonou-me a perguntar se a mala dela tinha cá ficado. Disse-lhe que não e ela continuava a insistir que tinha de cá estar. Perguntei-lhe de onde estava a telefonar e disse-me que era de casa. Disse-lhe "Oh Josefa se entraste em casa é porque tinhas a mala porque as chaves estavam lá dentro". Como insistia que que as tinha deixado aqui acabei por lá ir. Então não é que a tinha arrumado no roupeiro e não se lembrava?"

 " Cada dia que passa está pior. No outro dia fomos passear e quando a fui levar a casa disse-me para esperar que ia lá cima buscar umas coisas que tinha comprado para mim. Esperei mais de meia hora e como não vinha fui tocar à campainha.Quando entrou em casa esqueceu-se de mim".

Serei uma má profissional por sentir uma maior tristeza nesta situação do que com os utentes com que trabalho?

É impossível não olharmos para os nossos com outro olhos...

 

 

 

 

 

 

Com esta nova etapa da minha vida deveria andar feliz, deveria andar pulos de alegria não devia?

Pois nada mais de errado. 

O dia doloroso de ontem, as dores que ainda me apoquentam hoje, a procura de casa que não tem sido nada produtiva, a ida à loja da NOS para cancelar o contrato que o Miguel tinha em Marrocos e que foi mais difícil do que seria suposto são os motivos que me fazem andar irritada, implicativa e com um humor que dá pena.

Então eu não merecia estar com boa disposição para poder usufruir da companhia do Miguel?

A continuar assim ainda corro o risco dele se fartar de mim e voltar para Marrocos ou outro país qualquer.

 

A estadia em Marrocos correu bem. Tão bem que conseguimos tratar de tudo nos 3 dias que lá estivemos. Coisa milagrosa, diga-se. Não que as coisas não se tratem, mas a língua muitas vezes é uma barreira tremenda. Desta vez entre o inglês, espanhol e francês conseguiu-se anular o contrato de televisão e Internet.

Contrato anulado, conta do banco cancelada e casa pronta para entregar, apenas falava carregar o carro. Confesso que quando olhei para toda a tralha achei que metade das coisas teriam de ficar. O carro veio cheio, mas trouxemos tudo.

Entre sair de casa em Marrocos, apanhar o barco, sair do porto de Tarifa, almoçar, fazer algumas paragens e chegar a casa passaram 10 horas. 

Chegámos cansados, mas ainda assim arrumamos muita coisa antes de nos deitarmos. Ao meio da tarde do dia seguinte estava tudo arrumado. Na altura fiquei de rastos, mas aliviada. Sou do género de pessoa que pensa "É para fazer? Então é para já", claro que pensar assim por vezes trás problemas e foi o que aconteceu.

Talvez pela longa viagem e pelo teimosia esforço de arrumar tudo rapidamente levantei-me com dor de pescoço. Na altura achei que era um torcicolo normal e que passaria com pomada. Além de não passar piorou tanto que tive de ir até às urgência.

Depois de 3 horas à espera, uma injecção, uma ida à farmácia vim para casa acompanhada com estes medicamentos

20170312_193236.jpg

Ontem achei que todos os nossos planos para hoje iriam falhar, mas parece que os medicamentos são milagrosos e apesar de empanada já estou muito melhor.

 

 

Se tudo correr dentro do planeado amanhã regressamos a Portugal. Deixar um país não é apenas ir embora. Há muita coisa tratar para para não vir a ter problemas. É cancelar o contrato com a operadora de Internet, é fechar a conta no banco, é deixar agua e luz pagas e entregar a casa tal como a alugaram.

Alguns amigos diziam "Cancelar contratos? Fechar conta no banco? Oh pá é só levantares todo o dinheiro e vires embora". Gostamos de tudo certinho e direitinho, até porque esperamos um dia voltar de ferias.

Connosco irão 3 anos (quase) de uma vida, ou  seja muita roupa, muito calçado, vários pequenos electrodomésticos e vários utensílios de cozinha.

Parecemos um casal de divorciados que se acaba de juntar. Iremos ficar com 2 torradeiras, 2 impressoras, 2 varinhas magicas, 2 maquinas de café, 2 jarros eléctricos e mais uma data de tralha. Felizmente que a casa é grande. O problema será se acabarmos por mudar para outra.

Quando chegar a altura logo se verá.

 

A vida por aqui tem sido uma correria. Não posso queixar-me de monotonia.

É ver casas e mais casas. É colocar as mão na cabeça com os preços astronómicos que pedem. É tentar perceber como é que se tem coragem de pedir preços tão altos quando a casa não vale nem metade. 

Esta situação em que o senhorio nos colocou está a fazer com que não possa saborear a vinda do Miguel como deveria.

Felizmente que amanhã partimos para Marrocos. Embora ele tenha coisa para tratar por lá espero podermos descontrair como merecemos.

Pág. 1/2