Ao longo de 10 anos de trabalho na área de geriatria foram muitas as situações com que tive de me controlar para não falar o que me apetecia. A grande maioria das vezes com os familiares dos utentes. Aqueles que acham que por pagarem podem exigir tudo e mais alguma coisa, mesmo coisas que sabem que nem nas próprias casas o conseguem fazer. Dou um exemplo de um utente vir para a Instituição com 2 pares de calças, 2 ou 3 camisolas e a família achar que é roupa suficiente para poder ser lavada, seca, passada ferro e arrumada no roupeiro no mesmo dia. Quando o vem visitar e o vêm vestido com calças que a instituição arranjou não gostam e reclamam que a pessoa tem roupa própria. Nessas alturas eu digo " Agora imagine que vestimos umas de manhã e se suja ao almoço. As primeiras vão para lavar, mas como deve calcular cuidar da roupa de mais de 50 idosos não nos permite ter a roupa pronta de imediato. Até na nossa própria casa não conseguimos fazer isso".
Casos do género eu consigo lidar sem demonstrar desagrado, mas lidar com pessoas mal educadas e ridículas e que se acham engraçadas não consigo evitar de deixar estampado no meu rosto o meu desagrado.
À uns dias tive um desses momentos.
Os familiares de um utente vieram à Instituição para dar uma triste noticia à pessoa. Pediram-me apoio caso se sentisse mal.
Queriam falar com ela sozinhos e coloquei-os à vontade para caso necessitassem tocassem à campainha que iria de imediato. Passado uns minutos a campainha tocou e claro a primeira ideia foi que seriam eles. Verifiquei que não eram, mas ainda assim fui até ao quarto saber se necessitavam de algo. Um dos familiares agradeceu e diz-me que ela estava bem. Um outro a rir diz-me algo que na altura achei que tinha percebido mal e digo-lhe "desculpe não percebi". Volta a dizer-me "Estaria bem se me trouxesse uma cervejinha geladinha".
Confesso que tive de me controlar muito para não lhe perguntar se achava que aquele era o momento indicado para fazer uma piada?". Olhei para ele com olhar de indignação e volto as costas. Passado uns minutos vi-o e ainda pensei que me viria pedir desculpas, mas o parvalhão limitou-se a olhar para mim com olhos e riso de quem se estava a meter comigo.
Espero não me cruzar com ele tão depressa, pois para a próxima poderei não conseguir evitar de responder.